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quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

desgraçado despertar

Quem tem a dor no corpo
impregnada como guia
não pode se dar ao luxo
de não se fazer em vigia

Não se pode fugir de tudo
se banhando em alegria
esquecendo da dor do mundo
como se todos tivessem alforria

Quem desperta do sono profundo
e ainda assim dorme na vida
nunca soube do sofrimento
que é nunca ter alforria

Classe média, ó desgraçada
condição tal camuflada
se despertem enquanto há tempo
que breve breve, não terão nada.

5 de janeiro de 2017

Suja

Me virei em poesia suja
nua, crua,
pura
como rastro de sujeira na rua.

virei cuspe de Maria
catarro de João
vômito de menina
que engravidou no saguão

imunda como uma cova
de madeira ou de vidro
visível aos olhos
somente do morto umbigo

Qual tamanho do conforto
que me atinge sem o gosto
tendo a voz do meu corpo
que não sai sem o povo?

Tão pergunta que respondo
mexo tanto e fico tonta
com vertigem na altura
me jogo em morte, e pronto.


5 de janeiro de 2017

Eu quero gritar a sujeira


Eu quero a eloquência sem fala
me escrever sem palavras
só sorrir com granada

Gritar pro mundo o delírio
de coçar o cu e o umbigo
depois cheirar em improviso
e esfregar na cara da sala.

Quero gritar a sujeira
me sentir ser brincadeira
descer correndo nua, na ladeira
depois desabar embriagada.

Ir pra praça, varar a madrugada
ser fugida da polícia,
e no final, dilacerada.

Brincar ao final do dia
matar a sujeira da burguesia
melar a cara, de ironia
encher de bala, a moral da hipocrisia.

Eu quero atirar
andar em cima do mar
matar o que nos aprisiona
poder sorrir e chorar.

Eu quero amar.


5 de janeiro de 2016


Há quantos metros se explica o amor

se mora longe
a metros do passado
se folga hoje
se nos temos lado a lado
se vejo em olho
com o braço cruzado
se ainda ontem
eu tive um colapso
dentro da gente borbulha em corpo
alguma saudade de um mundo novo
borbulha em peito a nossa vontade
de termos inteiro, por todas as tardes.
em cima da gente, párea o infinito
de medir o quão bonito
ver-sentir o amor florido
ver-sentir-ser florescer.
e ver crescer no céu longínquo
a longinquidade de ser o tempo
e abrir no vão, mais um momento
de temperar sem tempo errar.
amar o amor que sente em corpo
colher o pólen, a flor em gozo
beijar o céu, sentir o vento
sentir você, ser movimento.

5 de janeiro de 2017